Chip reprogramado permite obter "veneno" personalizado em motores com
injeção eletrônica de combustivel.
Com o uso cada vez maior da
eletrônica nos carros, parte da preparação mecânica feita para que se obtenha
maior potência dos motores já não é necessária como é o caso de carburação e
ignição. Na maioria das vezes, fica impossível "envenenar" um motor atual sem
deixar de incluir a alteração do programa da injeção. Nos carros onde a injeção
eletrônica de combustível substituiu o carburador, pode-se conseguir um aumento
de potência e torque do motor em torno de 10% sem sujar as mãos de graxa. Basta
substituir ou reprogramar o chip do comando eletrônico central da injeção, que
geralmente controla também a ignição.
Ao
contrário da preparação mecânica convencional, a preparação "eletrônica" (ou
"veneno eletrônico") necessita basicamente de uma chave de fenda (para desplugar
o chip), um programa especial (software) e um computador portátil para
transformar o comportamento e o desempenho de um motor.
Mágica? Não. São
benefícios que só a eletrônica permite.
Na foto vemos o software rodando
em um Marea 2.0 20V. A preparação "eletrônica" começa com a localização, dentro
do módulo de comando central do sistema de injeção eletrônica do chip - na
verdade um PROM, Programable Read Only Memory ou "Memória Programável Somente
para Leitura" - onde estão gravados os "acertos" (mapas), ou seja, os padrões
originais de fábrica que determinam como o motor deve se comportar em cada
situação.
Como funciona?
Antes de responder à
solicitação do motorista a unidade ou central de comando eletrônico do motor (ou
ECU Engine Control Unit) colhe as informações vindas dos vários sensores
instalados no motor como temperatura ambiente, temperatura da água do radiador,
pressão absoluta no coletor de admissão, pressão atmosférica, velocidade e
rotação, possibilidade de pré-detonação dos cilindros e qualidade dos gases do
escape (sonda lambda).
Processadas essas informações (de acordo com o que
está gravado no chip, ou seja, os padrões designados pela fábrica para as mais
variadas condições de solicitação do motor), tem-se a liberação dos sinais que
irão gerar a mistura ar/combustível adequada a ser injetada na câmara de
combustão, assim como o ponto correto de ignição para que se tenha o melhor
desempenho naquela situação.
Nessa programação original a montadora leva
sempre em consideração alguns fatores que invariavelmente acabam diminuindo a
potência real do motor, visando o menor consumo possível de combustível, máxima
durabilidade e mínima emissão de
poluentes.
Remapeamento
Localizado o PROM, ele é conectado a um equipamento que lê as informações originais e transfere para a memória de
um computador. Com os dados no computador parte-se para o processo de simulação
(ou emulação), onde são identificados os mapas utilizados pela ECU na situação
em que se deseja mudar o funcionamento do motor. Por meio de um programa
especial, o computador faz a leitura desses dados e transforma
parte deles em mapas tridimensionais. Com os mapas na tela do computador, o chip
é retirado da ECU e substituído pelo emulador para que as alterações possam ser
feitas instantaneamente, em função de rotação e carga (pressão no acelerador), e
fazer um remapeamento parcial ou completo do chip, alterando por exemplo o ponto
de ignição e o fluxo de combustível injetado em cada faixa de rotação. Depois de
feita a nova programação no computador, o PROM original é programado ou
substituído por outro com as novas informações.
Esse remapeamento do chip
chega ao requinte de permitir que se altere o comportamento do motor apenas em
uma determinada faixa de rotação/carga ou em todas as situações, da marcha lenta
a rotação máxima. Com ele pode-se, por exemplo, manter os parâmetros originais
de fábrica para as rotações mais baixas - favorecendo a economia de combustível
- e provocar uma superalimentação aumentando a potência favorecendo o desempenho
nas rotações mais elevadas.
Apesar de a injeção eletrônica estar presente
no Gol GTI desde 1989, estes chips praticamente se tornaram conhecidos no Brasil
nos anos 90 com a chegada em massa dos importados. A troca de chips originais
por outros envenenados em geral importados da Europa e dos Estados Unidos, só
começou a ser feita recentemente em nosso País. No exterior, esses chips são
vendidos por grandes redes de autopeças. Muitos consumidores brasileiros compram
esses chips de modelos norte-americanos e europeus acreditando em sua perfeita
adaptação em um carro similar nacional ou mesmo em um importado. Mas não sabem
que podem estar prejudicando o motor do carro.
Veneno exige mudanças
na injeção
Preparar um motor com injeção eletrônica é muito
mais fácil e rápido que os equipados com carburador. Mas vários cuidados devem
ser tomados para que o trabalho apresente o resultado esperado: é preciso
lembrar que mesmo com toda a "inteligência" dos sistemas de injeção, ela somente
executa os procedimentos que estiverem gravados em sua memória. De nada adianta
colocar um comando de válvula mais "bravo", se não for feito um remapeamento dos
dados referentes à injeção de combustível e ponto de ignição. Caso contrário, o
motor terá seu funcionamento prejudicado em marcha lenta, com pouco ganho em
médias e altas rotações.
Esse é um dos motivos que levou muitos
preparadores em "venenos" pesados, a colocar bicos injetores extras nos motores,
aumentando a alimentação e melhorando a potência/torque em rotações
elevadas.
Com o correto remapeamento do chip não existe a necessidade dos
bicos extras e , no momento em que se quiser, é só trocar o chip alterado pelo
original. Não ficará nada que denuncie que aquele motor foi
"mexido".
Combustível
Um chip importado reprogramado feito
para um BMW que rode nos Estados Unidos, por exemplo, é diferente de um chip
"envenenado" feito exclusivamente para o Brasil, também destinado a um BMW
similar. O BMW "americano" é programado para rodar com a gasolina de lá, que tem
uma composição diferente da nossa. Além disso, na programação do chip são
considerados os fatores climáticos de cada país. Às vezes, se faz a troca do
chip original por outro "envenenado" importados pensando em obter um ganho de
desempenho. Na verdade, isso acaba não ocorrendo devido a inadequação do chip
preparado.
Alguns preparadores que não têm acesso á tecnologia atual
costumam aumentar a vazão do combustível, trocando o bico injetor original por
outro com diâmetro maior e também melhorando o fluxo de ar para o coletor de
admissão substituindo mangueiras e filtros originais por outros que facilitam a
passagem de ar e combustível. Entretanto, quando se opta pela troca dos
injetores é preciso levar em conta que o motor passará a trabalhar com mistura
muito rica em todas as faixas de rotação (desde a marcha lenta até a rotação
máxima), perdendo a maior vantagem da injeção eletrônica: ter rendimento
otimizado quando se necessita de economia de combustível nas outras
faixas.
Parte dos atuais programas de computador consegue ler as
informações gravadas no PROM apenas em linguagem mais simples - hexadecimal,
linhas de programação em forma de texto ou gráficos bidimensionais. Ou seja,
apenas em função da carga ou rotação do motor. O sistema, por sua vez, trabalha
simultaneamente com a carga e rotação do motor de maneira muito mais rápida e
precisa, usando mapas tridimensionais. Em geral, esses programas mais simples só
obtêm uma informação da qualidade percentual de gasolina a ser injetada numa
determinada rotação e a projetam para outras faixas de rotações, alterando todos
os valores a partir desse padrão.
Chip Reversível
A
reprogramação de chips de injeção permite mais que uma simples mudança de
comportamento do carro. É possível que um único chip tenha em sua memória até
quatro programas diferentes, um para cada condição de uso do carro, que podem
ser selecionadas por meio de uma chave instalada no painel.
Mudando a
posição da chave, um carro "campeão" de economia transforma-se rapidamente em
"esportivo" nas altas rotações. Pode ter ainda seu comportamento original de
fábrica ou mostrar-se levemente "envenenado" para melhor rendimento na estrada,
por exemplo. Comparado a um carro carburado, é como se ele tivesse quatro giclês
e quatro distribuidores diferentes.
Esses chips especiais - disponíveis
para a maioria dos carros nacionais e importados, sempre equipados com injeção
eletrônica digital - são desenvolvidos com o
sistema.
Bloqueio
Outro fator que tem de ser levado em
consideração na troca do chip e que, por medida de segurança, as fábricas trocam
constantemente os endereços (localização) das informações contidas no PROM. Dois
modelos de características mecânicas e fabricação similares podem ter
determinadas informações em espaços diferentes do chip, de forma a tentar
bloquear o acesso à informação e induzir o reprogramador ao erro. Assim, os
valores encontrados num PROM podem não servir para os de outro carro, até mesmo
de modelo ou ano de fabricação idênticos.
Limitador de
rotação
O sistema de injeção eletrônica controla também os limites de
rotação máxima do motor e velocidade, cortando a injeção de combustível e não
permitindo que o motor ultrapasse aqueles limites estabelecidos pela fábrica. No
caso de um carro com motor que recebeu comando de válvulas mais "bravo", por
exemplo, é necessário que o limitador de giro seja alterado e adequado às novas
condições do comando.
Alguns carros nacionais e a maioria dos importados
têm ainda um limite de velocidade pré-estabelecido pela fábrica por razões de
segurança. Nos utilitários a velocidade máxima é de 180 km/h, enquanto nos
carros de passeio o limite é de 250 km/h. Com a reprogramação do chip, é
possível alterar o limite, passando para velocidades mais
elevadas.
Software
Já com a leitura e a programação de chip
pelo sistema, a reprogramação do chip é feita de forma bastante diferente
permitindo resultados mais eficientes e até um "veneno eletrônico"
personalizado. Essa reprogramação pode ser feita com o carro em movimento de
modo a que o próprio motorista sinta a mudança de comportamento do motor e possa
alterá-lo de acordo com suas preferências.
Esse tipo de remapeamento do
chip não visa apenas deixar o carro mais "bravo" pode ser feita também para
reduzir o consumo de combustível ou até aumentar a durabilidade do motor,
permitindo um tipo de "acerto especial" para carros de frota, como o corte do
motor acima de uma determinada velocidade. Outra utilidade é quando um motor
injetado passa por uma retifica e os valores de caixa de compressão, por
exemplo, são alterados ou ainda quando o motor já tem alta quilometragem. Nessas
condições a injeção pode ser mais adequada à nova situação do motor. Assim como
os outros sistemas no mercado, o principal motivo para uma reprogramação do chip
está mesmo no aumento do torque o que torna o carro mais ágil em qualquer
situação. O resultado é sentido principalmente nos veículos da baixa cilindrada,
onde qualquer ganho de potência ou de torque, por menor que seja, é bastante
perceptível. Logicamente, o ganho de torque e potência será proporcional em
todos os carros, respeitando-se as diferenças entre os motores, como cilindrada
características do comando de válvulas e tipo de injeção de combustível
(multiponto ou monoponto).